domingo, 15 de junho de 2008

O que os jornais não noticiaram sobre o Haiti














“Os corpos ficavam estirados no chão. Ninguém, a não ser os cães, tocava neles”. Essa foi a primeira impressão que o soldado Anderson teve ao chegar a Porto Príncipe, em meados de 2005, para participar da Missão de Paz organizada pela ONU.
A violência instaurada nas principais cidades do Haiti, desde a renúncia do presidente Aristide em 2004, produziu um sem número de mortos. “Os cadáveres permaneciam nas ruas sem preocupar os que passavam, pois eles já estavam acostumados com aquela situação” concluiu o militar.

Ainda sem conhecer a situação caótica instalada no país, o soldado embarcou rumo a capital Porto Príncipe, junto com 1500 colegas, para integrar as Forças de Paz da ONU. “Quando disseram que era Missão de Paz, pensamos que era para distribuir alimento e remédio, além de prestar primeiros socorros. A gente não sabia que tinha que invadir favela. Eu não estava preparado. No quartel a gente só dava tiro em barranco”, disse o soldado.

Em vez de prestar a tão noticiada ajuda humanitária, os soldados da ONU receberam ordens expressas para invadir becos e favelas a procura de armamentos roubados, do exército haitiano, por insurgentes. “Logo que chegamos, tivemos que invadir uma casa cheia de rebeldes. Fosse pra matar ou morrer, nós tínhamos que entrar. Meu colega, que segurava uma metralhadora, entrou em choque dentro do carro de combate. Quase provocou um acidente sério”, contou o soldado sobre a primeira missão que recebeu em solo haitiano.

Os rebeldes eram, sem dúvida, os alvos das tropas da ONU. Nos confrontos, porém, muita gente inocente morreu. Segundo o militar brasileiro, várias crianças sucumbiram vítimas de balas perdidas. “Não dá pra saber se a munição saiu de armas militares ou se saiu da arma dos criminosos”, afirma.

As informações fornecidas pelo soldado certamente surpreendem. Poucos brasileiros sabem o que de fato ocorreu – e ainda ocorre – entre as Tropas da ONU e o povo haitiano. Os jornais não noticiaram as atrocidades cometidas lá e o motivo dessa negligência não se sabe.

Segundo Anderson, nem as famílias dos militares envolvidos sabiam do que se passava no Haiti. “Um dia após enfrentar rebeldes, num tiroteio que durou quase uma hora e que causou a morte de vários soldados da ONU, liguei para minha mãe para dizer que estava tudo bem comigo. Ela, até então, de nada sabia por que no Brasil nenhum jornal havia dado a notícia.”


Elaine Siqueira

3 comentários:

Denis Porto Renó disse...

Elaine, independente de avaliações anteriores, o seu texto é do caralho, mostra pra que serve o jornalista e como ele deve saber falar: contando histórias. Isso mostra como você está preparada pra profissão, e como a falta de estágio é irrelevante quando se tem talento e sensibilidade para lutar contra as injustiças da vida. Uma jornalista sai de dentro do coração e se encontra com os ensinamentos em sala de aula, e não o contrário. Que bom confirmar o que eu já sabia desde os primeiros dias de aula: que seu coração nunca foi oco. Sucesso.

Anônimo disse...

Olá, tudo bom?

Concordo plenamente com o Denis sobre seus textos.
Você é realmente uma pessoa completa. Sinto-me lisonjeado em ter você como parte da minha pequena, mas importante, lista de amizade.


Um abraço,
Matheus

Dante Raphael disse...

Eita orgulho de jornalista viu!!!
Texto fantastico. Até mesmo uma pessoa leiga ao extremo entenderia qual a importancia do jornalista e das noticias nem sempre informadas pelo porra da tv Brasileira. *lembrando do seu tcc com linguagem leigos* ¬¬
mas bom, agora tem alguém pra pra fazer a diferença =]

Bom, extremamente arrependido de ter enrolado pra ler o blog, mas é isso... ¬¬

Parabéns Elaine.
E siga o caminho escolhido sem olhar para os lados ou para trás, pq a melhor parte do bolo está te esperando logo alí, e até pq já é sua e não minha como vc havia dito ^__~